Cartas de Santo Inácio de Antioquia – 1ª Parte: Introdução

Foi graças a Inácio que as palavras cristianismo e Igreja Católica surgiram.

Era o início dos tempos que mudaram o mundo, próximo do ano 35 da era cristã, quando ele nasceu. Segundo os estudiosos, não era judeu e teria sido convertido pela primeira geração de cristãos, os apóstolos escolhidos pelo próprio Jesus. Cresceu e foi educado entre eles, depois sucedeu Pedro no posto de bispo de Antioquia, na Síria, considerada a terceira cidade mais importante do Império Romano, depois de Roma e Alexandria, no Egito. Gostava de ser chamado Inácio Nurono. Inácio deriva do grego "ignis", fogo, e Nurono era nome que ele mesmo dera a si, significando "o portador Deus". Desse modo viveu toda a sua vida: portador de Deus que incendiava a fé. 

A viagem de Inácio, acorrentado, de Antioquia até Roma, por terra e mar, foi o apogeu de sua vida e de sua fé. Feliz por poder ser imolado em nome do Salvador da humanidade, pregou por todos os lugares por onde passou, até no local do martírio. Durante a viagem final, escreveu sete cartas que figuram entre os escritos mais notáveis da Igreja, concorrendo em importância com as do apóstolo Paulo. Em todas faz profissão de sua fé, e contêm ensinamentos e orientações até hoje adotados e seguidos pelos católicos, como ele tão bem nomeou os seguidores de Jesus.

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Introdução às cartas de Santo Inácio de Antioquia

Embora oriundo de Antioquia, seu nome deriva do latim: igne = fogo, e natus =nascido. Ignacius é bem o nascido do fogo, ardente, apaixonado pelo Cristo, pela Igreja, pela unidade e pelo desejo de imitação de seu mestre. Quase nada sabemos de seus pais, de sua formação, se era de família cristã ou convertida.

Alguns, conforme Eusébio, dizem que fora o segundo bispo de Antioquia: “Mas, depois que Evódio fora estabelecido o primeiro sobre os antioquenos, Inácio, o segundo, reinava no tempo do qual falamos” (HE, III,22). Pelos fins do século IV, Jerônimo dizia que “Inácio, terceiro bispo, depois do apóstolo Pedro, da Igreja de Antioquia, foi enviado a Roma, condenado às feras durante a perseguição movida por Trajano” (De Viris Illustribus, XVI). A liturgia bizantina em sua memória não acrescenta dados biográficos, mas ressalta traços marcantes de sua personalidade: “Êmulo dos apóstolos em sua vida, sucessor deles sobre seus tronos, tu encontrastes na prática das virtudes, ó inspirado de Deus, o caminho que conduz à contemplação. Assim, dispensando fielmente a palavra de verdade, lutastes pela fé até o sangue, ó Pontífice mártir Inácio. Roga ao Cristo para que salve nossas almas”. A Igreja de Antioquia o celebra a 17 de outubro, data que se encaixa melhor com a data da Carta aos romanos (24 de agosto). A liturgia latina o festeja a 1º de fevereiro. A escolha do evangelho da celebração alude à lenda que pretende ver naquela criança que Jesus tomou nos braços, em Mc 9,33, o menino Inácio. Daí ser cognominado “Theoforos”, isto é, carregador de Deus.

Inácio tornou-se célebre por sua peregrinação forçada, em cadeias, de Antioquia a Roma, por volta dos anos 107-110. Nas paradas que fazia para descanso, escrevia às comunidades que o tinham recebido ou que lhe enviara uma embaixada com saudações. Não se sabe se, realmente, chegou a Roma, nem se, de fato, seu martírio foi consumado. Para Eusébio, há apenas uma “tradição” que diz que foi enviado da Síria para Roma para sofrer o martírio. Vejamos como Eusébio situa Inácio: “Naquele tempo, florescia na Ásia um companheiro dos apóstolos, Policarpo, (...). Ao mesmo tempo que eles igualmente eram conhecidos Pápias, bispo também ele da Igreja de Hierápolis, e o homem ainda hoje celebrado pelas multidões, Inácio, que tinha obtido, na sequência da sucessão de Pedro, o segundo lugar. A  tradição conta que ele foi enviado da Síria à cidade de Roma para se tornar o alimento das feras, por causa do testemunho pelo Cristo. Enquanto viajava através da Ásia sob a vigilância atenta dos guardas, confirmava as Igrejas por onde passava com seus colóquios e suas exortações em todas as cidades onde passava” (HE, III, 36,1-4).

Quanto a seu martírio, Eusébio o data, no livro das Crônicas, pelo ano décimo do reinado de Trajano, isto é, 107 d.C. Mas, a julgar pela HE, III, 33,36, Eusébio não tinha informações cronológicas seguras. Tratava-se, para ele, de situar a carta de Plínio a Trajano de modo aproximativo. Não se pode, pois, confiar nesta data, como se a prisão de Inácio se devesse à perseguição de que fala a carta de Plínio. Quase todos os especialistas concordam em aceitar o ano 110 d.C. como mais provável.

As Cartas

É ainda Eusébio quem nos fornece indicações gerais sobre as cartas: “Foi assim que, estando em Esmirna, onde era bispo Policarpo, escreveu à Igreja de Éfeso uma carta, na qual faz menção de seu pastor, Onésimo; outra à Igreja de Magnésia sobre o Meandro, na qual faz igualmente menção ao bispo Damas; outra à Igreja de Trália, onde diz que o chefe era, então, Polibo. Além dessas cartas, escreveu também à Igreja dos romanos, à qual desenvolve uma exortação para que não se faça campanha em vista de priva-lo do martírio, sua esperança e seu desejo. Dessas cartas, é justo citar passagens, mesmo breves, para demonstrar o que acaba de ser dito. (...) Em seguida, já longe de Esmirna, ele dirigiu ainda por escrito, de Trôade, aos cristãos de Filadélfia, à Igreja de Esmirna e pessoalmente a seu presidente Policarpo, que ele conhecia como homem apostólico (...)” (HE, III, 36,5-6.10). Suas cartas, ao que parece, foram largamente difundidas e, segundo J. Quasten, elas “têm importância incalculável para a história do dogma”. De modo geral, as cartas refletem a influência do pensamento Paulino, predominantemente, mas também o de João.

Depois do século IV, Juliano, o ariano, lançou uma edição grega das sete cartas de Inácio, às quais ajuntou outras três cartas.

Conteúdo das Cartas

Às cartas têm um esquema que lhes é comum: 1) uma saudação; 2) elogio das qualidades da comunidade; 3) recomendações precisas sobre a) fuga da heresia; b) agarrar-se à unidade da comunidade pela submissão ao bispo; 4) saudação final e pedido de preces para Síria ou o envio de um diácono.

O tema central que as perpassa é, sem dúvida, o dá união: união com Deus, com Cristo, com o bispo, entre os cristãos. É esta união a fonte viva onde Inácio alimenta o desejo ardente de imitar o Cristo em sua paciência até a morte, o martírio.

Este, o martírio, é um tema frequente em suas cartas, especialmente, na carta aos Romanos; na qual Inácio suplica para que não façam nada para impedi-lo de chegar à rena e se deixar devorar pelas feras: “Deixai-me ser o pasto das feras” (Rom 4,1). Mas é no cap. V desta carta que ele expressa melhor seu ardente desejo:

“Desde a Síria até Roma, luto contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-me piores ainda. Todavia, por seus maus tratos, eu me torno melhor discípulo, mas nem por isso sou justificado”.

Possa eu alegrar-me com as feras que me são preparadas. Desejo que elas sejam rápidas comigo. Acariciá-las-ei, para que elas me devorem, logo, não como a alguns dos quais elas tiveram medo e não ousaram tocar. Se, por má vontade, se recusarem, eu as forçarei. Perdoai-me, sei o que me convém. Agora estou começando a me tornar discípulo. Que nada de visível e invisível, por inveja, me impeça de alcançar Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, lacerações, desmembramentos, deslocamento de ossos, mutilações de membros, trituração de todo o corpo que os piores flagelos do diabo caiam sobre mim, com a única condição de que eu alcance Jesus Cristo”.

Sua concepção do martírio parece sofrer influências da filosofia helenística, estoica, de Paulo e IV Macabeus, pois, afirma que “Nada do que é visível é bom” (3,3) e “É vivo que vos escrevo, mas com anseio de morrer. Meu desejo terrestre foi crucificado e não há mais em mim fogo para amar a matéria” (7,2).

Th. Camelot chama a atenção para outros pontos importantes da doutrina inaciana: “Como a seus grandes doutores, a Igreja lhe deve certos traços que permanecerão adquiridos para sempre: para a doutrina da encarnação e da redenção, da igreja ou da eucaristia, Inácio trouxe para a construção do dogma católico pedras sólidas e bem talhadas que permanecerão à base do edifício”. Veem os especialistas em Efes, 1.1, e 7,2, indicação da divindade de Cristo: o Salvador e gerado e não gerado. Este termo “não gerado = ingênito” vai fazer correr rios de tinta. O concílio de Nicéia (325) fixara no Credo o “genitum non factum”, gerado não criado. Mas, em Inácio, não tem ainda esta precisão, embora, Atanásio que tomou parte efetiva na elaboração deste vocábulo, reconheça a perfeita ortodoxia do texto de Inácio. Aqui ele significaria o “não feito, não criado, eterno”, com referência à essência divina sem visar o mistério da geração do Verbo procedendo do Pai, como está em Magnésios 6,1: “aos quais foi confiado o serviço de Jesus Cristo, que antes dos séculos estava junto do Pai e por fim se manifestou”.

Mas o grande tema de suas cartas é mesmo o da unidade. Esta unidade com Deus e com Cristo se manifesta na unidade com o bispo “acima da qual nada há de melhor” (Polic, 1,2). Em face aos dissídios, Inácio insiste como ponto fundamental e primeiro na união em torno do bispo. Enquanto em documentos anteriores encontram-se ora um colégio de anciãos (presbíteros), ora uma hierarquia com dois colégios, bispos e diáconos, como responsáveis pelas comunidades, as cartas de Inácio são as primeiras testemunhas da hierarquia em três graus: bispos, presbíteros e diáconos. Mas Inácio exalta sobretudo o bispo. Estes são vigários de Deus. Os cristãos devem fazer tudo sob “a presidência do bispo, que ocupa o lugar de Deus” (Magn, 6,1; 3,1). Pois, “assim como o Senhor nada fez, nem por si mesmo nem por meio de seus apóstolos, sem o Pai, com o qual ele é um, também vós não façais nada sem o bispo e os presbíteros” (ibid. 7,1). Assim, o bispo é o mestre responsável pelos fiéis.

Fonte: inacianos.org.br
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