A gravidade do pecado: pecado mortal e pecado venial
Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A
distinção entre pecado mortal e pecado venial, já perceptível na Escritura,
impôs-se na Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a.
O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por
uma infracção grave à Lei de Deus. Desvia o homem de Deus, que é o seu último
fim, a sua bem-aventurança, preferindo-Lhe um bem inferior. O pecado venial
deixa subsistir a caridade, embora ofendendo-a e ferindo-a.
O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a
caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma
conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da
Reconciliação:
«Quando [...] a vontade se deixa atrair por uma coisa de si
contrária à caridade, pela qual somos ordenados para o nosso fim último, o
pecado, pelo seu próprio objeto, deve considerar-se mortal [...], quer seja
contra o amor de Deus (como a blasfémia, o perjúrio, etc.), quer contra o amor
do próximo (como o homicídio, o adultério, etc.) [...] Em contrapartida, quando
a vontade do pecador por vezes se deixa levar para uma coisa que em si é
desordenada, não sendo todavia contrária ao amor de Deus e do próximo (como uma
palavra ociosa, um risco supérfluo, etc.), tais pecados são veniais».
Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo,
três condições: «É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é
cometido com plena consciência e de propósito deliberado». Para que o pecado
seja mortal tem de ser cometido com plena consciência e total consentimento.
A matéria grave é precisada pelos dez Mandamentos... A
gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo.
A qualidade das pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência
cometida contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida
contra estranhos.
A ignorância involuntária pode diminuir, ou mesmo desculpar,
a imputabilidade duma falta grave. Mas parte-se do princípio de que ninguém
ignora os princípios da lei moral, inscritos na consciência de todo o homem. Os
impulsos da sensibilidade e as paixões podem também diminuir o carácter
voluntário e livre da falta. O mesmo se diga de pressões externas e de
perturbações patológicas. O pecado cometido por malícia, por escolha deliberada
do mal, é o mais grave.
O pecado mortal... se não for resgatado pelo arrependimento
e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna
no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade para fazer escolhas
definitivas, irreversíveis.
Comete-se um pecado venial quando, em matéria leve, não se
observa a medida prescrita pela lei moral ou quando, em matéria grave, se
desobedece à lei moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento.
O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um afeto
desordenado aos bens criados, impede o progresso da pessoa no exercício das
virtudes e na prática do bem moral; e merece penas temporais. O pecado venial
deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para
cometer o pecado mortal. No entanto, o pecado venial não quebra a aliança com
Deus e é humanamente reparável com a graça de Deus. «Não priva da graça
santificante, da amizade com Deus, da caridade, nem, portanto, da
bem-aventurança eterna».
«Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar
totalmente o pecado, pelo menos os pecados leves. Mas estes pecados, que
chamamos leves, não os tenhas por insignificantes. Se os tens por
insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves
fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem
um monte. Onde, então, está a nossa esperança? Antes de mais, na confissão».
«Todo o pecado ou blasfémia será perdoado aos homens, mas a
blasfémia contra o Espírito não lhes será perdoada» (Mt 12,31). Não há limites
para a misericórdia de Deus, mas quem recusa deliberadamente receber a
misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e
a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Tal endurecimento pode levar à
impenitência final e à perdição eterna.
Fonte:
Catecismo da Igreja Católica 1854 a 1864
Foto retirada da internet
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